CRÉDITO & SEGUROS: Euribor e bancos - o que esperar para os créditos habitação?
A Euribor está a descer, mas os bancos podem aumentar os spreads, o que pode tornar os créditos habitação mais caros. Entenda como são afectadas prestações.
A Euribor tem mostrado sinais de descer, o que normalmente se traduz em créditos habitação mais baratos. No entanto, a incerteza económica e as mudanças nas políticas monetárias podem levar os bancos a ajustar as suas ofertas, nomeadamente aumentando os spreads e tornando as condições de financiamento mais restritivas. A seguir, explicamos como a Euribor e a reação dos bancos podem afectar os créditos habitação em Portugal.
Como a Euribor influencia os créditos habitação?
A Euribor (taxa de juro de referência para os empréstimos interbancários na zona euro) tem sido uma das principais variáveis que afeta os créditos habitação. Quando a Euribor desce, as prestações dos empréstimos com taxa variável ou mista também tendem a diminuir. No entanto, a evolução da Euribor não acontece de forma isolada. O Banco Central Europeu (BCE) tem influenciado as taxas através das suas decisões sobre os juros, como aconteceu no dia 17 de Abril, quando o BCE decidiu cortar as taxas de referência.
Recentemente, as taxas Euribor a 3 e 6 meses caíram para valores inferiores aos observados nos últimos dois anos, o que tem levado a uma redução nas prestações mensais dos créditos habitação. A taxa a três meses, por exemplo, caiu para 2,183%, enquanto a de seis meses baixou para 2,154%. A expectativa é que a Euribor continue a descer devido ao corte adicional de juros do BCE. Este ambiente tem incentivado a procura por crédito habitação em Portugal.
A reacção dos bancos: possibilidade de aumento de spreads
Embora as taxas Euribor estejam a descer, o comportamento dos bancos pode alterar as condições do crédito habitação. Num contexto de incerteza económica global, como a gerada pela guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, os bancos podem aumentar os spreads, ou seja, a margem que aplicam sobre a Euribor para calcular a taxa final do empréstimo.
O aumento da restrição nos critérios de concessão de crédito é uma possibilidade que tem sido levantada pelos especialistas. A incerteza nos mercados financeiros, aliada à instabilidade global, pode levar os bancos a serem mais cautelosos na concessão de crédito. Isso significa que, mesmo com a descida da Euribor, os bancos podem ajustar os seus spreads, o que pode resultar em prestações mais altas para os mutuários.
Segundo o Conselho do BCE, a volatilidade dos mercados pode aumentar a aversão ao risco e levar à adopção de condições mais restritivas para os financiamentos. Embora isso possa afectar os novos créditos habitação, a realidade é que qualquer mudança significativa nas ofertas de crédito não deverá ser imediata.
O futuro da Euribor e dos créditos habitação
O comportamento da Euribor nos próximos meses será crucial para os preços do crédito habitação. Os analistas preveem que a Euribor a 12 meses possa continuar a descer até o final de 2025, impulsionada pelos cortes adicionais dos juros pelo BCE. No entanto, existe um consenso de que as taxas Euribor não descerão muito mais e que se estabilizarão em torno de 2% até o final deste ano. Além disso, existe uma expectativa de que, em 2026, a Euribor possa retomar uma trajectória ascendente, o que impactará directamente as prestações dos créditos habitação.
A evolução dos spreads e a oferta dos bancos
Os bancos têm vindo a reduzir os spreads nos últimos meses, especialmente nos créditos habitação com risco médio. Esta tendência tem sido observada devido à intensa concorrência no mercado e à diminuição das taxas Euribor. De acordo com o Banco de Portugal, muitos bancos têm estado a flexibilizar os critérios de concessão de crédito e a baixar os spreads, para atrair mais clientes. No entanto, esta tendência pode ser reversível, caso a instabilidade económica se agrave.
Ainda assim, muitos analistas acreditam que, a curto prazo, as condições para os créditos habitação não devem mudar significativamente, apesar do aumento da incerteza económica. Os bancos podem ajustar os spreads, mas as campanhas de crédito, com taxas mais acessíveis, podem continuar, pelo menos até o final do primeiro semestre de 2025.
Como os futuros cortes da Euribor podem afectar as prestações
A descida da Euribor terá um impacto directo nas prestações dos créditos habitação, especialmente para quem tem empréstimos a taxa variável. Para entender melhor esse impacto, vejamos alguns exemplos de simulações.
Se a Euribor a seis meses descer para 2,25%, a prestação mensal de um crédito de 150.000 euros a 30 anos (com spread de 0,7%) cairia de 639 euros para 628 euros.
Caso a Euribor a seis meses caia ainda mais, para 2%, a prestação mensal seria reduzida para 608 euros, uma diminuição significativa.
Estas quedas nas prestações são uma boa notícia para quem já tem um crédito habitação ou para aqueles que pretendem contratar um novo empréstimo nos próximos meses. No entanto, é importante que as famílias considerem a possibilidade de aumento dos spreads, o que poderia reduzir parte dos benefícios proporcionados pela descida da Euribor.
O que esperar do futuro próximo?
Embora as taxas Euribor possam continuar a cair, as condições do crédito habitação não deverão melhorar significativamente se os bancos ajustarem os seus spreads e as suas políticas de concessão de crédito. As famílias que pretendem comprar casa devem estar preparadas para uma possível subida nos spreads, o que pode aumentar o custo total do empréstimo. No entanto, se as condições actuais se mantiverem, é provável que a procura por crédito habitação continue a aumentar nos próximos meses, com uma grande adesão ao crédito de taxa variável.
A Euribor tem margem para continuar a descer, mas os bancos podem ajustar os seus spreads e os critérios de concessão de crédito devido à incerteza económica. Para quem pretende contratar um crédito habitação, é essencial acompanhar a evolução do mercado e garantir que tem condições financeiras para lidar com as possíveis flutuações nas taxas de juro.
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